O Mali tinha um regime democrático bem estabelecido até
o último março, quando um golpe militar depôs o presidente Amabou Touré sob a acusação
de não estar lidando de forma competente com o separatismo no norte do país.
Nesta região, predominam os tuaregues, antigo grupo étnico de cultura nômade
que habita os desertos da região.
Grupos desta etnia, também conhecida como “cabeças
azuis”, têm revindicado há muito o seu próprio país, com um histórico de
revoltas principalmente nas décadas de 60 e 90. A queda do líbio Muamar Kadafi
em outubro de 2011 fez com que muitos tuaregues que faziam parte de seu
exército mercenário voltassem pro Mali com armamentos pesados.
O golpe militar, tentativa de evitar uma guerra
civil ocasionada por este regresso, culminou por precipita-la. Enquanto se
decide qual o poder legítimo em Bamako, os rebeldes do norte têm tomado
diversas cidades. O MNLA, principal grupo separatista, declarou a independência
do Azawad no dia 6 de abril deste ano. Esta seria a primeira pátria dos
tuaregues, entretanto, ainda não é reconhecida por nenhum país.
Há um segundo grande grupo separatista que preocupa
os governos vizinhos, é o Ansar Dine. Muçulmano radical e ligado à Al-Qaeda, o
Ansar pretende estabelecer a região ocupada pelos revolucionários como um
Estado islâmico. Este grupo foi aliado do MNLA por algum tempo, mas ultimamente
os separatistas têm lutado entre si, pondo em risco a vida de milhares de
civis.
O Conselho de Segurança apoia os esforços
diplomáticos para acabar com as sublevações no Mali, mas ainda não chegou a
endossar uma possível intervenção militar. Os governos vizinhos já pediram o
apoio da ONU para uma intervenção armada que estabilizasse a situação no país.
Em resposta, o CS fez um pedido por explicações mais
precisas da União Africana (UA) e da Comunidade Econômica dos Estados da África
Ocidental (Cedeao) sobre o tipo de resolução que almejam e não excluiu a
possibilidade de uma ocupação militar.
França e Marrocos são, até agora, os governos mais
empenhados em aprovar no Conselho uma intervenção dos países da Cedeao. Seu
maior argumento é o de que a comunidade internacional deve estar pronta para
combater a qualquer custo o terrorismo no Mali em nome da estabilidade da
região. Atualmente, quase dois terços do território do país estão nas mãos dos
rebeldes, incluindo regiões como Gao, Kidal e Timbuktu, onde patrimônios
históricos e religiosos têm sido destruídos nos últimos dias.
Segundo a Cruz Vermelha, o número de refugiados
internos ou em outros países já se aproxima dos 100 mil e boa parte destes vive
em situação deplorável. Por isso é essencial que as equipes de apoio
humanitário cheguem a estas pessoas sem o impedimento da insegurança.
A situação no Mali não parece caminhar para uma
solução pacífica entre as partes. Legiões de tuaregues continuam a chegar da
Líbia e a moral do exército tem estado em nível baixo demais pra uma tentativa
de resistência a essas ondas. Além disso, o governo perdeu o controle de
cidades e postos vitais para a administração do país de forma eficiente como os
postos militares e a base aérea de Tessalit. Em resumo, o Mali é um país
dividido entre um governo golpista desacreditado ao sul e grupos separatistas
ao norte. E seu conflito parece ter cada vez mais potencial para se alastrar
aos vizinhos.
Rádio Voz da Rússia http://portuguese.ruvr.ru/2012_03_23/69388115/
Terra Notícias (Divulgação de artigo escrito por Louis
Charbonneau e publicado na Agência Reuters) http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5879311-EI294,00-ONU+apoia+esforcos+politicos+mas+nao+intervencao+militar+em+Mali.html