sábado, 13 de novembro de 2010

Hassan bin Sabbah


Em 2001, depois dos atentados de 11 de setembro, o mundo estava chocado, e uma notinha de rodapé na imprensa britânica passou praticamente despercebida. Ela lembrava que os ataques de Osama bin Laden e da Al Qaeda tinham precedente no islã. A referência era à Ordem dos Assassinos, uma seita secreta islâmica fundada no século 11. Assassinatos, atentados, ensinamentos de cunho esotérico e até consumo de drogas dão o tom à sua história.
Os Assassinos, que já foram considerados a ‘dissidência da dissidência’ da ortodoxia muçulmana, queriam impor um governo próprio, eliminando seus inimigos políticos, eles se tornaram os primeiros terroristas da história.
Quem são os Assassinos, e como eles inspiraram o moderno terrorismo islâmico? A resposta não é fácil. Seu fundador foi um certo Hassan bin Sabbah. De origem persa, era uma figura enigmática – mistura de guerreiro, estrategista político e místico religioso. Bin Sabbah fazia parte de uma facção religiosa dentro do islã, o ismaelismo. Apesar de malvistos pela comunidade em geral, ninguém mexia com os ismaelitas. Eles eram poderosos e dominavam o Egito, além de uma fatia considerável no norte da África.
Por volta de 1090, depois de uma intriga pela sucessão do califado no Cairo, Bin Sabbah caiu em desgraça. Foi preso e trancafiado no alto do minarete de um palácio. Durante a noite, contudo, diz a lenda que a cúpula do minarete ruiu, e ele, vendo nisso um sinal divino, escapou. Dali em diante, ninguém mais controlaria seu destino. Em Masyaf, na Síria, e Alamut, na Pérsia, constituiu principados e ergueu fortalezas inexpugnáveis, geralmente em regiões montanhosas. Nascia assim o Senhor da Montanha, como passou a ser chamado.
BARRA PESADA
Bin Sabbah deu nome ao seu movimento, Ad-Dawa Al-Jadida, ou “a transmissão da nova doutrina”. Mas não foi por esse nome que seu grupo ficou conhecido. Eles entraram para a história como Assassinos, uma corruptela de al-hashshishin, ou ‘fumadores de haxixe’. Diversas lendas passaram a circular sobre a fortaleza de Alamut. Relatos sobre uso de drogas, lavagem cerebral, incesto e rituais secretos foram espalhados sobre os seguidores de Bin Sabbah, chegando à Europa pelos cristãos que retornavam das cruzadas. No século 14, na Itália, “assassino” já era usado como sinônimo de matador profissional.
Tudo isso é discutível. Hassan bin Sabbah, que passou os últimos 35 anos de vida recluso na fortaleza, estudando alquimia, astrologia e outras ciências ocultas, era conhecido pela moral ferrenha. Certa vez, pegou seu filho mais velho bebendo vinho escondido (algo proibido pela lei islâmica). Não titubeou: condenou-o à morte como se não existe qualquer parentesco entre eles.
ARTE DE MATAR
O certo é que os “fumadores de haxixe” se distinguiram como assassinos políticos. Eram meticulosos na arte de matar e mestres dos disfarces, da ocultação de armas e da invasão de domicílios. Havia uma hierarquia entre eles: o grão-mestre (Bin Sabbah), os dais (emissários), os rafiqs (associados) e os fadais (devotos). A função desempenhada por eles, no entanto, permanece obscura até hoje.
Eles eram extremamente disciplinados. Hoje, podemos dizer que buscavam a sobrevivência num mundo que lhes era hostil. Os Assassinos foram odiados pela maior parte da população muçulmana, que via neles um bando de hereges. Mas suas táticas eram admiridas pelos grandes estrategistas da época, até hoje elas são estudadas por guerrilheiros palestinos.
A seita durou até 1256, quando o general mongol Hulagu Khan tomou a cidade de Alamut. Todos os seguidores da seita foram mortos. Sobraram as lendas, que metem medo até hoje.