segunda-feira, 7 de março de 2011

Destino de Kadhafi


Segundo muitas fontes de notícias (existem informações conflitantes) que cobrem as manifestações líbias está cada vez mais difícil de acreditar que o ditador Muamar Kadhafi vai ser derrubado apenas pelas mãos dos rebeldes. As cidades de Gharyan e Sabratha, que estavam sob controle da oposição, foram retomadas pelo governo, que também luta para retomar Brega, 200 km ao sudoeste de Benghazi, a maior fortaleza dos manifestantes.
Kadhafi discursou para partidários e salientou que há “democracia” em seu país e que o sistema líbio “não é compreendido pelo mundo”. Enquanto isso, continua usando ataques aéreos contra civis. Líderes oposicionistas em Benghazi aparentemente não querem intervenção dos EUA ou da OTAN (o que seria muitíssimo bom para os ianques), mas pedem que a ONU bombardeie forças de Kadhafi. No entanto, Rússia e China bloquearão qualquer resolução nesse sentido no Conselho de Segurança. A propósito: uma organização que fiscaliza a movimentação de armas informou que no dia 15 de fevereiro, pouco antes do embargo de armas da ONU a Kadhafi, ele recebeu um avião carregado de equipamento militar vindo da Bielorrússia. Agora, quem acha que nasce alguém na Bielorrússia sem a autorização da Rússia, levanta o braço.
O primeiro-ministro britânico David Cameron, sugeriu a imposição de no-fly zones na Líbia, além do envio de armamentos aos rebeldes, mas Sarkozy e Obama ficaram com dois pés atrás. E a Liga Árabe? A Liga Árabe rechaçou quaisquer planos de intervenção estrangeira na Líbia. Mas o que ela se propõe fazer além disso, para parar a matança? Ela mesmo montará uma força conjunta para apressar a derrubada do ditador? Improvável. Ela conseguirá convencer Kadhafi a abandonar o poder e ajudará na transição para a democracia? Quem dera. Enquanto isso a al-Jazeera faz autocrítica com muita cobertura “humanitária”, se esquecendo de que medo é exatamente o que o tirano precisa pra governar.
Os EUA/OTAN/"All the world" esboçam uma intervenção na Líbia o que pode fortalecer Kadhafi, que passou a ser identificado como alvo do imperialismo, e abrir caminho para grupos como a al-Qaeda. Existe um sentimento anti-imperialista difuso na população líbia, e anti-semita declarado também. Intervir nessa revolução não é prudente mas pode se tornar inevitável já que Kadhafi (birrento) ameaçou fornecer suas jazidas de petróleo a países como China e Rússia. A coisa vai ficar feia se essa moda democrática pegar na Arábia Saudita.
Note que o caso líbio não é como o egípcio, cujas forças armadas foram apoiadas por décadas pelos EUA, relação que provavelmente foi fundamental para que em 2011 não se derramasse sangue em proporções líbias no Egito. O exército líbio já não era da confiança sequer do próprio Kadhafi, que já há algum tempo confia mais em mercenários do que nas forças regulares.
Uma coisa é certa: Kadhafi não pode ter sucesso. Se começar a retomar cidades por cima de cadáveres, terá que ser derrubado por algum país ou organização; não é possível que se ache uma intervenção para liquidar bandos de mercenários carniceiros a pior coisa do mundo. Se Kadhafi for bem-sucedido e a comunidade internacional simplesmente disser amém, estará dado o roteiro do sucesso para os outros tiranos da região permanecerem em seus tronos.