“Ué, como assim? E não é?”, pergunta-se você depois de ler esse título e ver a marca “made in China” no seu tênis, no seu tocador de mp3 e no seu boné. É claro que todos esses objetos testemunham o crescimento vertiginoso da economia chinesa e de sua influência no mundo, mas estamos empregando a palavra “potência” num sentido mais específico historicamente, o do muque. O fato é que o país asiático, se comparado com a Inglaterra ou mesmo com Portugal, deixou poucas marcas de seu poderio militar e cultural fora das próprias fronteiras. Também nunca foi o maior em tecnologia ou empreendedorismo nos últimos 500 anos: os componentes eletrônicos e as empresas que hoje estão fazendo a China crescer são invenções ocidentais. Taí algo que parece não fazer o menor sentido.
Isso já aconteceu na época que a China medieval liderava o mundo em tecnologia. A longa lista de suas invenções tecnológicas inclui a bússola, a pólvora, o papel e a imprensa. Mais do que isso: de 1405 a 1433, um almirante eunuco chamado Zeng He liderou uma poderosa frota chinesa que circulou por meio mundo, arrancando tributos de cidades africanas e transformando o país na maior potência naval de seu tempo ,nessa mesma época, os lusos estavam apenas engatinhando em sua exploração da costa ocidental africana.
Alguns historiadores mais afoitos chegam a propor que Zeng He teria chegado à América, mas, mesmo que ele não tenha realizado esse feito, fica claro que a China poderia ter se tornado o que os países europeus acabaram virando: a senhora dos mares, o primeiro país a construir um império realmente global. Capacidade para isso a frota de Zeng He aparentemente tinha: sua armada contava com quase 30 mil homens. No entanto, com a morte do patrono do almirante castrado, o imperador Yongle, as viagens rarearam e a frota foi desmantelada. A China proibiu as longas viagens marítimas e condenou as novas tecnologias. O país só se abriu no século 19, por pressão armada das potências européias.
Em seu livro Armas, Germes e Aço, Diamond propõe que essa reviravolta aparentemente burra só foi possível por causa das condições geográficas da China. A frota chinesa caiu em desgraça quando subiu ao poder uma facção inimiga dos eunucos como Zeng He. Como a China era um país ultracentralizado politicamente, qualquer decisão do governo acabaria com a fabricação de navios no país inteiro.
E por que a China era (e, aliás, é) tão centralizada? Por causa da relativa ausência de barreiras geográficas entre as regiões do país. As principais regiões da China são um país unificado há quase 2 mil anos. Já a Europa, com sua geografica acidentada, penínsulas e montanhas, teria estimulado o surgimento de dezenas de nações que competiam umas com as outras. Essa competição estimulou as navegações e o desenvolvimento tecnológico porque nenhum país poderia se dar ao luxo de ficar se coçando enquanto os vizinhos avançavam. Visionários não teriam um só patrono possível para suas idéias, é o caso de Colombo, que bateu na porta de todos os reinos da Europa antes de achar os reis da Espanha, que apoiaram a viagem da descoberta da América. Certa ou não, a teoria é instigante, e não muda o fato de que o dragão chinês finalmente está acordando.
São muitas as controvérsias a respeito das naus usadas pelo almirante Zeng He. Relatos dão a entender que elas mediam 120 metros, ou seja, umas 4 vezes mais que as caravelas utilizadas por Colombo. Alguns historiadores duvidam que houvesse tecnologia para fazer barcos tão grandes na época.
Girafas e outros animais exóticos de origem africana estão retratados em desenhos chineses que datam da época das viagens de Zeng He.
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