domingo, 6 de março de 2011

Créditos

O despertar árabe trouxe a tona alguns personagens anônimos e a necessidade de um novo feriado que registre o instante do fim da velha era dos ditadores e do surgimento de um crescente exército de jovens. O ditador que sobreviver pode entrar na categoria de grandes criminosos políticos da história contemporânea.
Após 42 anos no poder, Muammar Kadafi uniu-se aos piores de todos. Kim Il-Sung (Coreia do Norte) chegou a 46 anos, Saddam Hussein (Iraque) apenas a 35. Mubarak (Egito) somou 32 anos na escala dos ditadores; Sékou Touré (Guiné) aos 26, o mesmo que Franco (Espanha) e Salazar (Portugal). Nesta escala, os raquíticos 10 anos de Tony Blair reduzem substancialmente seu status de criminoso de guerra, um homem ao qual se poderia permitir uma vila de luxo em Sharm el-Sheij (que era onde Cherie, esposa de Blair, gostava de hospedar-se às custas do governo de Mubarak).
No violento caso da Líbia não nos encontramos tanto diante de uma revolução, mas sim de uma anarquia revolucionária baseada no tribalismo e que pode levar a um processo de desintegração do país. Kadafi, de fato, tornou-se uma espécie de reincidente, ainda que a oposição tenha cantado vitória cedo demais. Agora ele governa só metade de um Estado, o que pode ser temporário.
No caso do Egito (Revolução de Lótus) o Faraó que governava com mãos de ferro (ferro americano) foi derrubado por uma geração que nunca havia tido um outro governante e estava revoltada com o desemprego, inflação e principalmente a corrupção no estado, obviamente inspirada pela revolução tunísia e com o importante apoio  da Internet.
No caso tunisiano (Revolução de Jasmim) a população teve a gota d'água para sua tolerância para com o regime quando o ambulante Mohamed Bouazizi a muito tempo assediado pelas autoridades que confiscavam e pelos fiscais que ainda assim cobravam em um ato de desespero ateou fogo ao próprio corpo. O caso foi divulgado pelo perseguido site Wikileaks junto com outros relatórios da absurda corrupção que Ben Ali implantava no país.
E teremos que redefinir a natureza da imolação por fogo de Mohamed Bouazizi, que, sufocado pelo Estado e sua corrupção, e esbofeteado pela polícia, escolheu a morte como protesto, o que poderíamos traduzir como impotência absoluta. Bouazizi, no entanto, não se unirá à lista dos mártires favoritos da Al Qaeda. Não levou nenhum inimigo com ele; sua jihad nasceu do desespero, o que não é estimulado pelo Corão. Ele apresentou uma prova de que um suicida pode gerar, sem pretendê-lo, uma revolução e converter-se em um mártir para um povo oprimido, mais do que para Alah. Sua morte segundo sua religião não garantiu a sua entrada no paraíso, mas teve maior importância política do que a de um ataque suicida.
Outro que merece créditos é o Guru cibernético Julian Assange fundador do Wikileaks, site extremamente democrático cujo único propósito é despir governos e não podemos nos esquecer de Mark Zuckerberg já que pelas próprias palavras de Beji Caid Essebsi, novo Premier da Tunísia:
“Na verdade nosso verdadeiro primeiro ministro se chama Facebook”.