segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Situação no Mali


O Mali tinha um regime democrático bem estabelecido até o último março, quando um golpe militar depôs o presidente Amabou Touré sob a acusação de não estar lidando de forma competente com o separatismo no norte do país. Nesta região, predominam os tuaregues, antigo grupo étnico de cultura nômade que habita os desertos da região.
Grupos desta etnia, também conhecida como “cabeças azuis”, têm revindicado há muito o seu próprio país, com um histórico de revoltas principalmente nas décadas de 60 e 90. A queda do líbio Muamar Kadafi em outubro de 2011 fez com que muitos tuaregues que faziam parte de seu exército mercenário voltassem pro Mali com armamentos pesados.
O golpe militar, tentativa de evitar uma guerra civil ocasionada por este regresso, culminou por precipita-la. Enquanto se decide qual o poder legítimo em Bamako, os rebeldes do norte têm tomado diversas cidades. O MNLA, principal grupo separatista, declarou a independência do Azawad no dia 6 de abril deste ano. Esta seria a primeira pátria dos tuaregues, entretanto, ainda não é reconhecida por nenhum país.
Há um segundo grande grupo separatista que preocupa os governos vizinhos, é o Ansar Dine. Muçulmano radical e ligado à Al-Qaeda, o Ansar pretende estabelecer a região ocupada pelos revolucionários como um Estado islâmico. Este grupo foi aliado do MNLA por algum tempo, mas ultimamente os separatistas têm lutado entre si, pondo em risco a vida de milhares de civis.
O Conselho de Segurança apoia os esforços diplomáticos para acabar com as sublevações no Mali, mas ainda não chegou a endossar uma possível intervenção militar. Os governos vizinhos já pediram o apoio da ONU para uma intervenção armada que estabilizasse a situação no país.
Em resposta, o CS fez um pedido por explicações mais precisas da União Africana (UA) e da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) sobre o tipo de resolução que almejam e não excluiu a possibilidade de uma ocupação militar.
França e Marrocos são, até agora, os governos mais empenhados em aprovar no Conselho uma intervenção dos países da Cedeao. Seu maior argumento é o de que a comunidade internacional deve estar pronta para combater a qualquer custo o terrorismo no Mali em nome da estabilidade da região. Atualmente, quase dois terços do território do país estão nas mãos dos rebeldes, incluindo regiões como Gao, Kidal e Timbuktu, onde patrimônios históricos e religiosos têm sido destruídos nos últimos dias.
Segundo a Cruz Vermelha, o número de refugiados internos ou em outros países já se aproxima dos 100 mil e boa parte destes vive em situação deplorável. Por isso é essencial que as equipes de apoio humanitário cheguem a estas pessoas sem o impedimento da insegurança.
A situação no Mali não parece caminhar para uma solução pacífica entre as partes. Legiões de tuaregues continuam a chegar da Líbia e a moral do exército tem estado em nível baixo demais pra uma tentativa de resistência a essas ondas. Além disso, o governo perdeu o controle de cidades e postos vitais para a administração do país de forma eficiente como os postos militares e a base aérea de Tessalit. Em resumo, o Mali é um país dividido entre um governo golpista desacreditado ao sul e grupos separatistas ao norte. E seu conflito parece ter cada vez mais potencial para se alastrar aos vizinhos.

Terra Notícias (Divulgação de artigo escrito por Louis Charbonneau e publicado na Agência Reuters) http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5879311-EI294,00-ONU+apoia+esforcos+politicos+mas+nao+intervencao+militar+em+Mali.html