quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Sobre a relação entre os ataques a judeus no mundo e a Israel nas mídias

Quando a OTAN inicia intervenções no Levante com o apoio dos árabes, é fácil raciocinar que seja por guerra ao terror. Se os jordanianos o repetem, é porque protegem seu estado de uma ameaça latente. Os egípcios, quando o fazem no Sinai, obviamente preservam a estabilidade do país. Eventualmente, todos esses cometem a infelicidade de atingir civis durante a ação, principalmente quando em meios urbanos. Sem contar que o Egito, tendo passado por um breve governo de oposição, não apresenta sinais do fim de seu cerco a Gaza.
Aí começamos a falar de Israel, que também controla Gaza e faz uso do aparato militar alegando os mesmos três motivos: guerra ao terror, proteção e estabilidade. É gritante que só esse país vira alvo de campanhas internacionais tão grandes contra "genocidas da pior espécie e assassinos de mulheres e crianças".
Não questiono a preocupação humanitária dos protestos, mas é inegável que sejam um tanto conveniente como "guarda-chuva" moral pra pessoas ligadas àquelas velhas teorias racistas antissemitas. E se você acha que elas já não existem, tente explicar os ataques a judeus que não são sionistas na Europa.
Não seria o judaísmo não sionista um comportamento ideal à dita estabilidade? Então por que eles continuam sendo vítimas, mesmo sendo tão integrados às suas sociedades? Porque, não só o antissemitismo continua vivo, como também tem se travestido da capa moral "pró-palestina" e do ódio à figura do banqueiro judeu próspero pra ganhar espaço sorrateiro.
Defendo que existe relação entre esses casos e Israel em mais de uma direção. Não só a imagem de Gaza legitima discursos que em outras ocasiões seriam racistas, como as manifestações de intolerância a judeus alimenta o sionismo.
A aversão cotidiana é, ao lado dos incentivos financeiros, a principal fiadora da expansão dos tão famigerados assentamentos israelenses. Símbolos disso são as minorias russas que geralmente habitam nessas construções, fugitivas do peso racista do leste europeu, ou os anúncios de emprego na França que pedem "Se possível, não seja judeu" somados ao aumento de franceses emigrando para Israel.
Procure discursos de Hitler no youtube e leia alguns dos comentários mais curtidos. É frequente encontrar algo como "Ele estava certo" ou "Os judeus são uma raça muito privilegiada". Ao fim e ao cabo, são esses tantos e dispersos lacaios do ódio e das vergonhas do passado que terminam legitimando discursos militaristas nas eleições israelenses. Num cenário de liberdades garantidas e assimilação plena, a migração soa uma opção distante. Ela volta a estar em pauta quando as portas da sociedade se fecham e o ódio ganha tantos adeptos.
E esse tipo de gente também levanta a bandeira da "Palestina Livre". Muito mais por aversão a um estado moderno com maioria judaica que por afinidade àquela população árabe que tanto costumava ser perseguida nas terras de seus "irmãos".
Tenha em mente que Israel é, igualmente, um modelo estatal palestino e pode ser, enquanto entidade laica, um estado para todos os povos da região. É ainda um colosso em direitos femininos, democracia e educação, comparado a seus vizinhos. É também um estado de drusos e outras minorias muçulmanas que ali vivem mais livres que muitos dos líbios ou sauditas, por exemplo.
Toda crítica é bem-vinda a democracias, mas quando a crítica parcial julgada merecida, por conta da disparidade de forças, consegue deslegitimar a própria existência de Israel, são os grupos que se propõem alternativas a esse modelo de democracia que celebram.
O Hamas, que em sua carta de constituição prega implantar a shariah em cada polegada da Palestina, e Riade com seus déspotas, opressores por excelência e financiadores do terrorismo salafista, são exemplos de quem sai lucrando, como alternativas regionais.
Sejamos realistas: 1) A inferioridade militar não necessariamente é superioridade moral. Se fosse, Hitler deveria ser herói por desafiar a União Soviética e os EUA de uma vez em nome de seu projeto nacional, mas era só louco, detestável e muito burro. 2) Os discursos contra Israel são mais catalizadores de influência política que preocupação humanitária, seja quando proferidos pelo presidente do Irã, por John Kerry, pelos líderes latino-americanos ou por clérigos muçulmanos. 3) Os ataques ao Hamas não são genocídio e não é algo positivo banalizar esse tipo de acusação. Estão, como mostra a charge, alinhados às doutrinas de segurança mais comuns do nosso século. Criticar apenas Israel nesses casos, mesmo com boas intenções, pode ser uma tentativa de corrigir as injustiças do mundo cometendo outra.